Reproduzo aqui meu texto publicado no jornal Eco Lumiar de junho, sobre a tradição das festas juninas/julinas no 5º Distrito. Espero que gostem...
Junho e julho são tradicionalmente os meses dos festejos dos santos católicos. Então, nada mais oportuno do que falar das festas juninas e julinas em Lumiar.
O 5º Distrito já teve uma das festas juninas mais tradicionais da região. Antigamente, na 1ª metade do século passado, a festa era realizada próximo ao dia de São João (24 de junho), sempre em um sábado, sendo precedida pela também tradicional Festa de São Pedro, do 7º Distrito.
Como apenas o sábado tinha festejos (nada de um final de semana inteiro de festa), toda a comunidade lumiarense se mobilizava em torno do evento, cuja organização era, naquela época, encabeçada por D. Maria Mouta e por diversos membros da Igreja de São Sebastião. A festa também começava e acabava cedo, tendo em vista que a população, em uma época em que o distrito não tinha luz e a principal atividade econômica do local era a lavoura, também dormia e acordava cedo.
Dessa forma, a população caprichava na festa: a quadrilha – organizada pelo tio Hercílio Boy e, depois, por S. Astrogildo Mozer – era indispensável, com o tradicional casamento na roça. Havia muito forró para o povo dançar. Também havia uma fogueira bem alta no centro do “arraiá” e, como não poderia faltar, o pau-de-sebo para quem se dispusesse a pegar a sacolinha de dinheiro lá no alto dele.
Também havia comidas e bebidas típicas nos moldes das que eram oferecidas na festa de São Sebastião: pasteis, bolinho de aipim, bolo doce, milho verde, cocada, brevidade (um bolinho de fécula/polvilho), chocolate quente e o famoso rabo de galo (uma bebida com cachaça e cacau) da tia Olga Brust. O pé-de-moleque de Tia Olga também é inesquecível: muito saboroso e com uma textura que todos achavam que era feito com leite, apesar de ser feito mesmo com água. Uma delícia...
Outras barraquinhas ofereciam jogos, também semelhantes aos da festa de São Sebastião, como pescaria, argola (jogava-se a argola na própria prenda – garrafas de bebida, maços de cigarro e outros itens, em um tempo em que eles não eram considerados politicamente incorretos), jogo da roleta e a barraca da preá, onde uma preazinha era colocada no centro de uma pequena arena e deveria entrar em uma das casinhas dispostas naquele espaço.
E, claro, não podia faltar o famoso bingo ou, como era chamado pelos mais antigos, víspora. O bingo era “cantado” com “pedras” que eram, na verdade, pedacinhos de madeira numerados, pintados de vermelho. As “pedrinhas” eram sacudidas dentro de uma bolsa de tecido e, então, sorteadas. As cartelas de papelão numeradas eram marcadas com grãos de feijão ou de milho e as prendas podiam ser diversas, como bebidas, doces etc.
Todas as barracas da festa eram feitas com bambu, o que dava um ar mais rústico e original à festa.
A Festa Julina do Colégio Carlos Maria Marchon também já foi bastante animada no distrito; eu mesma, quando criança, já ajudei a fazer as bandeirinhas da festa, colando os pedaços coloridos de papel de seda no barbante, usando cola feita com farinha de trigo. Dava um trabalhão, fazíamos uma bela lambança com aquela cola de farinha de trigo, mas, além da farra que a criançada fazia na confecção das bandeirinhas, era o máximo ver o resultado do nosso trabalho decorando a festa...
Na festa do colégio também havia quadrilha com casamento na roça, barraquinhas de comes-e-bebes tradicionais e barraquinhas de jogos diversos. A comunidade participava da festa com gosto, fazendo com que o espaço da escola parecesse ser pequeno para tanta gente!
Outra festa bastante conhecida e já tradicional no calendário lumiarense – e que, felizmente, acontece até hoje – é a Festa Julina da Vila Mozer. Realizada pela família Mozer sempre no penúltimo sábado do mês, ela anima a região há várias décadas: tem a quadrilha, comidas e bebidas típicas – feitas com muito capricho pela família –, bingo e um forró bastante animado. Mesmo sem seu patriarca, S. Astrogildo Mozer, a família não perdeu a animação e continua realizando seus festejos julinos, ano após ano, para alegria da população do 5º Distrito – e de tantas outras pessoas que vêm até de outros municípios para curtir a festa.
Hoje, a comunidade lumiarense busca retomar as antigas tradições, e a festa principal do distrito, que antes era junina e agora tornou-se julina, acontece em frente à lagoa. Vale destacar o empenho de seus organizadores em resgatar a cultura caipira do distrito, importante para a preservação da identidade local. E é essa identidade cultural que Lumiar tem – sua paisagem bucólica, seu povo simples e acolhedor e o ar de vila do interior que exala por todos os seus cantos – que faz do distrito um lugar tão único e tão especial.
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