Postando matéria publicada no jornal friburguense
A Voz da Serra de 3 de maio, sobre o falecimento de S. Nagib Pedro, figura de destaque na sociedade lumiarense, no último sábado:
Morreu na noite do último sábado, 30 de abril, no Hospital São Lucas, em Nova Friburgo, aos 90 anos, depois de complicações provocadas por uma pneumonia, Nagib José Pedro, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.
Figura querida de Lumiar, onde era conhecido como comerciante e organizador do clube de futebol local, sua despedida mobilizou uma multidão que transportou o caixão a pé desde sua casa até a Igreja Católica de Lumiar, tomando suas dependências, em reverência a toda sua história de vida. A igreja é vizinha àquela em que os pais de Nagib se casaram em 1911. Antigos moradores disseram que há muito não se via um cortejo fúnebre no local.
O pai de Nagib, Júlio José Pedro, nasceu em Elsie, no Líbano, em 1889 e veio para o Brasil em 1907. Sua mãe Alcebiadina Januária Boy, nascida em 1896, era natural de Boa Esperança, localidade de Lumiar*, onde também nasceu Nagib em 1920, e é lembrada por quem a conheceu como a vovó Bidina. Entre as pessoas que se encontravam na cerimônia diversas relações de parentesco foram lembradas, o que não é de estranhar, uma vez que, dado o isolamento em que a comunidade viveu por mais de cem anos, são muitos os laços de consanguinidade.
Três bandeiras enfeitavam o caixão de Nagib, a do Brasil, lembrando seu sentimento patriótico — além de se orgulhar de sua condição de ex-combatente, sempre participava das cerimônias de 7 de setembro, na praça do centro de Lumiar, sendo apresentado aos jovens escolares como exemplo —, a do Lumiar Futebol Clube, que ajudou a reconstruir quando voltou da guerra e a do Fluminense Futebol Clube, do qual foi torcedor.
Em entrevista recente a A VOZ DA SERRA, Nagib contou muito de suas histórias, sua experiência com as tropas de burros que levavam e traziam mercadorias entre Lumiar e o centro de Nova Friburgo, a guerra e o futebol. Orgulhava-se de dizer que “em 1986, o time do Lumiar foi campeão rural e fomos para a cidade e fomos campeões lá também. Inclusive, conquistamos a taça de 60 anos da Liga Friburguense. E eu fui considerado o melhor presidente do ano”.
Antes da saída do corpo de Nagib para o Cemitério da Pedra Riscada, onde também estão sepultados sua esposa e seus pais, muita gente tinha histórias para contar. Entre essas pessoas, Jorge Barros, conhecido como Luvinha, de 64 anos, que jogou durante 15 anos no Lumiar Futebol Clube e diz que “ele era um pai para nós todos, ele era um grande pai”. Hilda Pinto tinha 6 anos “quando começou a guerra”. Diz que “a gente conheceu seu Nagib desde criança, sempre sorrindo, sempre ajudando, uma pessoa muito especial”.
Duas pessoas marcaram a cerimônia de despedida. Uma delas, José Schwaulb, de 80 anos, espécie de patriarca do grupo Sanfoneiros da Serra, que discursou lembrando feitos de Nagib, entre eles o de “mandar animais para buscar jogadores do Lumiar Futebol Clube em suas casas” para que pudessem jogar. A outra homenagem foi prestada por sua neta Laila Pedro Manhães, que leu o poema de Santo Agostinho, A morte não é nada, que tem o seguinte trecho: “Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo”.
(Mauirício Siaines)
* Boa Esperança pertence ao distrito de São Pedro da Serra.
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